Enfim, férias da pós-graduação.
Sendo o trabalho uma diversão, o único desconto que eu estava pedindo há muito era o da pós que, aliás, está me sugando muito mais que o habitual
no que se refere aos estudos. Mérito da Universidade São Judas Tadeu.
Muita gente me pergunta por que eu escolhi fazer a minha pós onde eu já tirei meu título de bacharel e licenciada. Ouvi por vezes que pós a gente sempre faz em uma faculdade diferente e eu até concordo à certa altura, mas posso dizer que não foi por falta de tentativa.
Por uma questão de mercado, me senti na obrigação de fazer uma pós em Língua Inglesa. Cheguei a me matricular em duas faculdades antes da São Judas e nas duas ocasiões saí um tanto decepcionada com a qualidade do corpo docente e a falta de comprometimento dos coordenadores de curso. Não vou entrar no mérito dos detalhes, mas isso me estimulou ainda mais a continuar onde eu já estava. E sem arrependimentos.
Aliás, minha relação com a São Judas é realmente de amor e ódio, mas inevitavelmente é um lugar que me orgulha muito.
Quando minha turma ingressou na faculdade, éramos na grande maioria frutos do ProUni (graças a zeus e ao Lula). Logo nas primeiras aulas, a minha professora de Gramática foi enfática quando disse que éramos a pior sala para a qual ela já tinha lecionado, devido às dificuldades que apresentávamos. E era bem capaz de sermos, mesmo, afinal era a primeira turma cuja grande maioria não conseguiria pagar o curso, não fosse as concessões de bolsas. Só deus sabe a paciência que os professores tiveram de ter com a gente, principalmente no primeiro ano, mas foi absurdo ver como conseguiram explorar nossas potencialidades tão bem. Fechamos o curso não só com a nota máxima do ENADE, mas também com o primeiro lugar na avaliação dos cursos de Letras em São Paulo.
Eu escolhi a São Judas por um motivo simples: status. Em 2006, quando eu examinei os resultados do antigo Provão, vi que a São Judas era a única faculdade a conseguir a nota máxima no curso de Letras nos últimos cinco anos de avaliação. E entendi o motivo disso quando entrei lá. Além de ter uma ótima infraestrutura, é uma faculdade ainda aberta à comunidade com inúmeros cursos e benefícios gratuitos voltados a ela e passe livre para qualquer um circular pelo local. Não tem essa de musiquinha de fundo quando você liga. O atendimento é excelente em todas as áreas. Por vezes por exigências profissionais eu solicitava documentos cujo prazo era de 15 ou 20 dias e, quando alegado o motivo, lá estava o documento pronto no dia seguinte.
Falando especificamente do que presenciei por meio dos cursos de Letras, Licenciatura e pós em Língua Inglesa, percebi que lá o discente tem sua vez. A coordenação é aberta, alunos realmente derrubam professores ruins, os professores enxergam a gente muito além do que considero normal. Por outro lado, eles mantêm ainda uma certa sisudez que acho extremamente raro hoje nos cursos onde os docentes confundem flexibilidade com permissivismo.
O que também me deixou bastante apaixonada é a relação entre os docentes. É uma relação bonita, de amizade, mesmo e muita cumplicidade. Isso agrega muito valor ao curso e por vezes me emociona muito. Testemunhei uns falando de outros com grande devoção. Sempre pensei comigo que um dia trabalharia em um lugar assim (e foi).
Por vezes na pós-graduação vi pessoas vindas de outras faculdades reclamando da didática e dos materiais dos professores. Pode ser que eu esteja enganada, mas a impressão que tenho é que as pessoas vem cada vez menos despreparadas para compreender estruturas complexas e chamam isso de confusão ou desorganização por pura preguiça.
O testemunho que dou é que saí do curso de Letras com a impressão de que todos – sem exceção – os alunos que se formaram saíram de lá maduros e competentes, no seu máximo, alguns até eclodindo no mercado, surpresos com a capacidade que desenvolveram ao longo do curso. Meus professores são verdadeiros apaixonados pelo que fazem e souberam transmitir essa paixão para nós. Nada era muito linear. A gama cultural, a nossa visão política e social, a capacidade de reflexão, o conhecimento histórico e a percepção do futuro… tudo. Saí de lá bombando sentimento. Graças a zeus não bitolei em Clarice Lispector ou Fernando Pessoa como a maioria dos meus colegas de profissão. Boto a mão no fogo que nenhum outro curso se dedicou tanto a balancear paixões e a fazer jus também aos menos privilegiados, mas igualmente recomendáveis autores.
Da Licenciatura nem preciso falar. Nada de estágio meia-boca. Era projeto de verdade, intermediado pela própria universidade com parcerias na comunidade. Você entrava no pico, mesmo, se envolvia, sentia na pele o quanto a educação estava uma bosta, mas ao mesmo tempo se emocionava demais, se divertia demais, saía de lá já com o tesão de saber como era ajudar pelo menos um pouco. Tudo o que sei sobre legislação, tecnologia, psicologia da educação veio tudo lá de dentro e não foi pouco. Até as matérias que os licenciados costumam achar um porre como didática e currículo, para mim, eram um barato. Sou eternamente grata aos mestres da São Judas por ter passado em um concurso público sem abrir a página de um livro sequer para estudar, simplesmente porque lá eu não aprendi só a aprender, mas também a fazer e a amar o que faço.
Sei como são as pós de Língua Inglesa nas outras faculdades, as poucas que ousam ainda oferecer o curso, na maioria de um jeito bem boqueta. Ao contrário dos outros dois cursos que fiz na USJT, creio que a pós ainda precisa de uns reajustes, mas por outro lado a carga horária pesada e as exigências igualmente pesadas botam todo mundo que veio de fora na linha. Nada difícil, mas também nada de moleza. É um curso de pós para quem realmente sabe Inglês, porque a gente respira o segundo idioma lá das 08:20 até as 16:30 toda semana com gosto. A disposição do corpo docente também é muito legal de se ver. Ganhei livros, tive uma tese bastante estimulada e professores dispostos a ouvir e a aprender com as minhas experiências. Foi a partir daí que pela primeira vez comecei a cogitar a ideia de um mestrado e reconheci que tenho algo relativamente interessante para disseminar.
Sei que é um merchan do caramba e, como alguns poderiam dizer, nada mais justo tudo ser tão bom, afinal eu pago por isso. Mas creio que em tempos nos quais a educação anda meio bamba, nem as melhores instituições têm resistido aos cursos a distância e as faculdades têm erguido prédios ao bel-prazer, achei que essa universidade merecia esse testemunho, porque é um pouco do meu orgulho também.
Enfim, mais um semestre de USJT de amor e ódio, mas também de lúcida satisfação. Uma pequena declaração de amor a uma história que já dura quase cinco anos.
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